Antes do Natal, crianças escrevem
cartinhas ao Papai Noel. Eu, que deixei longe minha infância, escrevo depois do
Natal. Não para o Papai Noel, mas para o Menino do presépio. Vai para ele minha
última mensagem do ano:
Querido Menino Jesus.
Não sei para você, mas para mim foi
bom ter acabado o agito do Natal. Para falar a verdade, tamanho rebuliço já
estava me cansando. Não que eu não reconheça o significado do seu nascimento
entre nós. Quem sou eu, miserável pecador, para não me extasiar, agradecido,
ante o mistério de Deus, que vem ao nosso encontro na doçura de uma criança?
Que nos dá o próprio Filho feito humano igual a nós em tudo, menos no pecado? Com a Igreja também rezo ao Pai nestes dias: “No
momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma
incomparável dignidade: ao tornar-se Ele um de nós, nós nos tornamos eternos”. Não
é disso que estou falando, você sabe. O Natal nunca deixará de ser fonte e
garantia de salvação para toda a humanidade. Como então não vibrar de alegria
nem fazer festa por causa dele?
Não é a festa que me aborrece,
Menino Jesus; é a ideia que dela muitos fazem. Nada além de comida, bebida e caríssimos
bens consumíveis. Você acompanhou o movimento do centro, nos dias de preparação
para o Natal? No comércio, um atropelo de dar medo. Nas calçadas, gente trombando
com gente. Até se pisando, por falta de espaço. Meu coração mole sofre pelas
crianças que nunca entraram num shopping. Só conhecem lojas de artigos baratos,
à altura do salário que os pais recebem. Muitas, nem isso.
No fim, para que essa correria? Pela
irreprimível ilusão de comprar para si e para os seus um feliz Natal. Cá com
meus botões, fiquei pensando: “Ah, não vai haver felicidade para todos. Mesmo
com estoques reforçados, as lojas não vão dar conta. Vai sobrar gente sem
felicidade. Quem chegou primeiro acaba comprando tudo”. Pra você ver, Menino,
em que se transformou hoje a festa do seu nascimento.
Triste é perceber que, por
diferentes que pareçam, as coisas não mudaram tanto assim. Possivelmente nem
tenham mudado. Quando você nasceu, quem se importou com o casal pobre e
desconhecido – a mulher muito jovem e grávida –, longe de casa, precisando de
ajuda? Quem olhou para um bebê que, por falta de berço, a mãe se obrigou a
acomodar nas cavidades da pedra de um estábulo de animais? Preocupar-se com
esse tipo de gente? Imagine! Da mesma forma que naquela noite, em Belém, quem hoje
mostra interesse pelo seu nascimento, Menino? As pessoas têm a atenção voltada para
shoppings e lojas de grife onde esperam adquirir a felicidade do Natal.
Penso nos pais e mães que se amarguram,
quando o Natal vem chegando. Seu pobre coração se angustia. Não por sua causa,
Menino. Por causa do outro, que ocupou o seu lugar. Ele expõe preciosidades que
a indústria fabrica e o comércio vende. Só que não são para os pobres.
Apesar de simpático, o Papai Noel
é incapaz daquilo que os anjos anunciaram naquela noite: glória a Deus e paz
aos homens amados por Ele. Você, Menino Jesus, veio para mostrar que Deus ama a
todos nós. Mas só os pobres conseguem admitir essa verdade. Quem tem o coração
dominado pelo dinheiro não precisa de Deus. Nem da paz que você veio trazer.