Ao discutir com um matuto mineiro, o cidadão de um
Estado famoso por seus numerosos valentões ameaçou: “Saiba que eu venho de uma terra
que só tem macho!” Com a fala macia e a paciência de costume, o mineiro respondeu: “Pois no lugar onde eu fui
criado, sô, metade do povo é homem e metade é mulher. E a gente gosta. Ninguém
nunca reclamou”.
Não vou me referir à marcha para Jesus nem à parada
gay do último final de semana em nossa cidade. Como veem, estamos virando
cidade grande: já imitamos São Paulo. O que pretendo é apenas dar um pitaco
sobre matéria publicada, dia 13 de maio, Dia das Mães, no nosso principal
matutino, a respeito de mulheres que se tornaram mães sem a presença dos pais
de seus filhos. Já preparei o lombo para as bordoadas que certamente vou
receber. É a vida. Opinião católica em jornal laico é risco certo de
espinafração.
Disse o texto que
em nossa cidade as “mães solteiras respondem por 40% dos nascimentos” de
crianças tidas em hospital. O número é inferior ao do índice estadual, que no Paraná
chega a 54,4%. No Brasil o percentual de mulheres solteiras que dão à luz atinge
61,6%. São dados do Sisnav – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do
Ministério da Saúde, referentes a 2010. Imagino que a soma das mães solteiras
movidas por independência econômica seja inferior à daquelas que engravidaram
“por acidente” – as duas razões aduzidas na matéria. O número escasso de
entidades destinadas ao acolhimento de mães jovens em situação de risco – assim
como a facilmente verificável quantidade de adolescentes grávidas – não deixa
margem a dúvidas. Eis um problema social inquietante.
Servindo-se da comparação autorizada pelas cifras
apresentadas, o jornal assegurava que Maringá “ainda pode ser considerada uma
cidade conservadora”. Causou-me surpresa o vocábulo empregado. As palavras revelam
muito da forma de pensar de quem fala. É certo que não veio afirmado com todas
as letras, mas veladamente deu a entender que Maringá ainda não atingiu o
progresso do Paraná nem do Brasil. Para a maioria das pessoas é preferível ser
progressista a ser conservador. Conservador é visto como representante de
posições ultrapassadas. Progressista, ao contrário, é alguém voltado às
inovações do progresso.
Por que desprezar a família? Porque a
Igreja a defende? Ora, a ONU não é nenhuma instituição religiosa e faz o mesmo. Foi a ONU
que proclamou 1994 como Ano Internacional da Família, e 15 de maio como Dia
Internacional da Família. Mais: reconheceu-a como "pequena democracia no coração
da sociedade". A mensagem para 2012 do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon,
defende a família dos desafios do mundo do trabalho, na atual crise econômica e
financeira. Diz: “Congratulo-me pelo estabelecimento
de locais de trabalho favoráveis à família, através de disposições de licença
parental, regimes de trabalho flexíveis e de melhor cuidado com os filhos”.
Propostas “moderninhas”
serão mesmo, como tão facilmente se proclama, melhores do que o “conservador”
modelo de pai, mãe e filhos estavelmente unidos? Que solidez oferecem
invencionices conflitantes com o que a natureza estabeleceu? Sei não. Mais prudente me
parece confiar no tino do matuto mineiro. Que, neste caso, poderia ser
parafraseado assim: “Onde eu fui criado, sô, o nenê nasce de mãe e pai unidos em
família. E a gente gosta. Ninguém nunca reclamou”.
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