sábado, 14 de julho de 2012

Nossas origens - por padre Orivaldo Robles


Em todas as edições o vestibular traz à nossa cidade um bando de jovens num colosso de ônibus de várias procedências. Alguns (ônibus, não estudantes) tornaram-se fregueses de nossas ruas e avenidas. A cada vestibular aparecem de novo. Sinto um prazer infantil em admirá-los. Sua elegante beleza é um convite a viajar para lugares desconhecidos. Lembram meu tempo de criança. Eu nem sonhava com outra forma de viajar que não de ônibus. Naquele tempo eles eram diferentes. No interior em que vivíamos, ônibus era uma gaiola comprida na qual se enfiavam quantos infelizes coubessem.  Às vezes, até mais do que cabiam. Levados por centenas de quilômetros, o tempo parecia não ter fim. Conforto, nenhum. Espremidos no meio de sacos de mantimentos, de pacotes, quando não de frango ou de leitãozinho peado, os passageiros suavam como tampa de chaleira. Mães com nenê sofriam o que não sonhavam haver de sofrimento. O ambiente recendia a vestiário de futebol em tarde de dezembro. Só a necessidade fazia embarcar em tal carroção motorizado.
Agora, tudo é diferente. A vida mudou para melhor. Essa molecada que se diverte – com tablets, smartphones e mais quantas novas bugigangas eletrônicas o comércio lança, todo mês – não dá conta de calcular a moleza que é viajar nos dias de hoje. Mesmo de ônibus. Os atuais são ultramodernos, espaçosos, dotados de tantos itens de conforto que nem em casa conseguimos colocar. Conforme a ocasião, oferecem viagem mais agradável ou rápida que as modernas aeronaves que cortam os ares.
Alguns ônibus destinados ao vestibular de nossas universidades procedem do interior paulista. De cidades como Birigui, Penápolis, Votorantim... Imagino-os locados por cursinhos da região. De tê-los visto tantas vezes, já os tenho como amigos. Dois em especial me cativam a atenção acima dos demais. Descobri-os no ano passado. Voltaram para o vestibular desta semana. Sem receio de me enganar, garanto que são mais bonitos e mais novos que todos os outros. Nas laterais, em grandes e graciosas letras manuscritas, o nome da empresa, que é também o da cidade: Poloni Turismo. Ninguém faz ideia do que isso quer dizer. Mas para mim é importante. Eles são da minha cidade. Minha e de mais quatro maringaenses. Podem achar tolice, mas não sabem vocês o custo que é explicar meu local de nascimento, toda vez que me pedem a informação. Explico que se trata de uma pequena cidade da Araraquarense (5.500 habitantes), próxima de São José do Rio Preto. Que o nome foi dado pelo fundador, Cândido Poloni, de ascendência italiana, que, em 3 de maio de 1926, fundou uma vila no meio dos cafezais da região. Para os céticos os ônibus estão aí provando que ela existe.
A maior parte da infância, vivi no sítio. Morei só em duas cidades. Bem pequenas, e por pouquíssimo tempo. Ambas levam o nome do seu criador. A outra é Jales, iniciada por um engenheiro de nome Euphly Jales, em 1940. Conheci ambos os fundadores. Que, evidentemente, nem se deram conta de minha insignificante existência. Mais de meio século depois, divulgo as cidades que fundaram. Obscuros povoados, que me ajudaram a ser o adulto que hoje sou.
Alguns renegam sua origem modesta. Mas valor, se temos algum, nós o levamos dentro de nós. E ele começou a ser construído na cidadezinha humilde, que jamais deixa de ser nossa. 

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