sábado, 6 de abril de 2013

O mais importante bem - por padre Orivaldo Robles


Eventualmente, quando o tempo me permite, acompanho o Jornal do Meio Dia. Esforço-me para não ser muito ignorante sobre o que rola por esse mundão de Deus. E me vejo mais assustado a cada dia. Tenho medo de que nos familiarizemos com brutalidades e safadezas. Que, no fim de algum tempo, venhamos a achar tudo normal. Que nos rendamos ao fatalismo de admitir que hoje o mundo é assim mesmo. Que não adianta lutar contra. Que nada pode ser feito. Boa parte das pessoas parece já concordar com isso.
Neste último dia de março, em Curitiba, uma senhora com três crianças, ao tomar um ônibus articulado da linha Pinheirinho-Praça Rui Barbosa, notou que o veículo tinha fechado a porta e arrancado antes que a terceira menina houvesse embarcado. Desesperada, pediu ao motorista que parasse. Enquanto isso, da janela, gritava à filha que esperasse no ponto até que a mãe voltasse para buscá-la. Vários passageiros se revoltaram com o condutor. Dois rapazes conversaram com o repórter da TV. Um disse que advertiu o motorista, dele obtendo, como resposta: “Ah, que se dane!”. Ao outro ele argumentou que tinha horário a cumprir e estava atrasado. Já fora anteriormente repreendido pelo fiscal da empresa por atender a passageiros. Como o jovem insistisse, freou o coletivo e disse asperamente: “Então venha você mesmo aqui dirigir”. Indignados, os jovens desceram com a mulher na parada seguinte. Postaram queixa na internet. Obtiveram compartilhamento de milhares de internautas.
Os responsáveis pelo transporte coletivo na Capital vieram a público, nas redes sociais, oferecer as explicações de praxe. Falaram que verificarão o caso, que os funcionários têm normas rígidas para tratar o público etc. Quanto à criança, esclareceram que “tem cerca de 10 anos e não 5, como informado anteriormente. Ela ficou junto ao cobrador da estação-tubo, que tomou conta dela durante os 7 minutos que a mãe levou para retornar”. Com isso se restabeleceu a convivência cidadã entre prestadores de serviço e destinatários, que nada mais são que a plebe inculta e pobre, pois não?
Gente, que mundo estamos construindo? Que bem precisamos defender como o mais importante? Será o lucro, o prazer, o prestígio, o luxo, a vantagem sempre crescente de quem manipula os cordéis do mercado? Que relações norteiam nossa vida em sociedade? A cada dia sabemos de novos absurdos. Ainda não diminuiu a dor pelas mortes na boate Kiss, de Santa Maria, e vêm novas mortes na região serrana fluminense, mortes na queda do ônibus da Linha Vermelha, mortes, mortes...
Ah, nossa Curitiba festejada por tantos que gostam de aparências, pelo menos você não nos desiluda. É pena descobri-la tão diferente daquela de 1958. Quando a vi, pela primeira vez, a bordo de um DC3 da Real Aerovias, você se mostrava linda com os raros prédios agrupados no centro e os pinheiros brilhando ao sol da manhã. Cabia-lhe bem o título de Cidade Sorriso. Percebeu como ninguém mais a chama assim?
Não bastam moradores ricos, que se vestem com elegância europeia. Nem eficiente sistema viário, modelo para Brasil e Exterior. Uma cidade é bem mais do que isso. Você se fez lindamente moderna. Mas também se converteu na sexta capital estadual mais violenta do Brasil. Aonde foram parar amor e respeito ao ser humano, bem maior de qualquer cidade? Por suas ruas circulávamos sem medo. Até sorríamos uns para os outros. Por que as coisas não são mais assim?

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