A cada ano, durante a preparação próxima para a Páscoa, mais
especificamente na Quinta-feira Santa, a liturgia nos propõe uma reflexão sobre
o mistério da Eucaristia e sobre o os ministros ordenados.
Foi durante uma ceia pascal, a última ceia, que Jesus,
reunido com seus discípulos, tomou o pão, deu graças, partiu e o distribuiu
dizendo ‘Isto é o meu corpo’. Depois tomando o cálice repetiu o mesmo gesto
dizendo ‘Este é o cálice do meu sangue’.
Segundo o papa João Paulo II na carta Encíclica Ecclesia de
Eucharistia “a Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor, não como um
dom, embora precioso, entre muitos outros, mas com o dom por excelência, porque dom dele mesmo, da sua Pessoa na humanidade
sagrada, e também da sua obra de salvação” (11).
Celebrar a Eucaristia é, para o cristão, celebrar o memorial
da morte e ressurreição do Senhor. Este acontecimento torna-se presente em cada
Eucaristia.
E por ser o sacramento por excelência, a Eucaristia está
colocada no centro da vida eclesial. Desde os inícios da Igreja, as primeiras
comunidades já se reuniam em torno do ensinamento dos apóstolos, da escuta da
palavra e da fração do pão.
Passados mais de dois mil anos, a Igreja continua a fazer memória
do seu Senhor através do sacramento eucarístico. A Eucaristia continua a evocar
as cenas daqueles últimos dias de Jesus. Desde sua agonia no horto, quando o
sangue que escorria já havia sido doado em bebida na noite anterior. Na cruz, o
corpo suspenso e entregue ao Pai, é o corpo entregue na Ceia de Jesus.
A Eucaristia revela um profundo amor. Um amor levado ao
extremo da doação. Não há maior prova de amor que dor a vida por quem se ama.
Toda a vida de Jesus foi marcada pela doação. Sua morte não poderia ser
diferente. E num último gesto de amor Jesus faz de sua vida, seu corpo e
sangue, presença amorosa na vida de cada cristão.
Mas a Páscoa de Cristo não inclui só a paixão e a Morte.
Inclui também a Ressurreição. Daí que toda Eucaristia é memorial da ressurreição
do Senhor. Só assim o pão eucarístico é o ‘pão da vida’ o ‘pão vivo’.
Mas a vida gerada por este pão não serve apenas para a
vanglória particular de cada fiel. Esta vida tem gosto de doação, de serviço.
Não nos esqueçamos que foi no contexto da ceia que Jesus deixou uma ordem aos
seus discípulos: “ assim como eu fiz, façam vocês também”. Era o lava-pés. A
doação da vida mostrada no concreto da vida.
Vale aqui, transcrever estas palavras do Papa João Paulo II
tiradas da carta citada acima: “Muitos são os problemas que obscurecem o
horizonte do nosso tempo. Basta pensar quanto seja urgente trabalhar pela paz,
colocar sólidas premissas de justiça e solidariedade nas relações entre os
povos, defender a vida humana desde a concepção até ao seu termo natural. E
também que dizer das mil contradições dum mundo ‘globalizado’, onde parece que
os mais débeis, os mais pequenos e os mais pobres pouco podem esperar? É neste
mundo que tem de brilhar a esperança cristã! Foi também para isto que o Senhor
quis ficar conosco na Eucaristia, inserindo nesta sua presença sacrificial e
comensal a promessa duma humanidade renovada pelo seu amor. É significativo
que, no lugar onde os Sinópticos narram a instituição da Eucaristia, o
evangelho de João proponha, ilustrando assim o seu profundo significado, a
narração do ‘lava-pés’, gesto este que faz de Jesus mestre de comunhão e de
serviço (cf. Jo 13,1-20). O
apóstolo Paulo, por sua vez, qualifica como ‘indigna’ duma comunidade cristã a
participação na Ceia do Senhor que se verifique num contexto de discórdia e de
indiferença pelos pobres (cf. 1Cor 11,17-22.27-34).
Anunciar a morte do Senhor ‘até que Ele venha’ (1Cor 11,26) inclui, para os que participam na Eucaristia, o
compromisso de transformarem a vida, de tal forma que esta se torne, de certo
modo, toda ‘eucarística’. São precisamente este fruto de transfiguração da
existência e o empenho de transformar o mundo segundo o Evangelho que fazem
brilhar a tensão escatológica da celebração eucarística e de toda a vida
cristã: ‘Vinde, Senhor Jesus!’ (cf. Ap
22,20) (EE 20)
Na quinta-feira pela manhã – ou outro dia próximo à Páscoa –
celebra-se a Missa do Crisma e renovação das promessas sacerdotais. Geralmente
realizada na igreja-mãe da Diocese, a catedral, a Missa do Crisma reúne os
presbíteros em torno de seu bispo manifestando aquela comunhão que deve haver
entre eles.
Se a Eucaristia é o centro da vida eclesial, para os
presbíteros ela se reveste de um sentido muito especial: é centro do seu
ministério. É verdade que o serviço que o presbítero presta à Igreja e na
Igreja não se limita à celebração eucarística. Comporta desde o anúncio da
Palavra, à santificação das pessoas através dos Sacramentos até a condução do
povo de Deus na comunhão e no serviço. Mas a Eucaristia é o ponto irradiador e
o ponto para o qual tudo conduz. O ministério presbiteral nasceu com a
Eucaristia no Cenáculo.
A ação eucarística conduzida pelo presbítero tornará
presente em cada geração cristã e em cada canto da Terra, a obra realizada por
Cristo. Onde quer que for celebrada a Eucaristia, nesse lugar, tornar-se-á
presente o sacrifício da Calvário. Lá estará presente o próprio Cristo,
Redentor do mundo.
Pe. Onildo Luiz Gorla Júnior
Nenhum comentário:
Postar um comentário