quinta-feira, 7 de junho de 2012

Missão na prisão - por Adriana Nishiyama


Caríssimos amigos, cá estou para partilhar mais uma experiência que estou vivendo na missão, aqui em Bafatá, “Missão na prisão”.
Tudo começou após o golpe de estado do dia 12 de abril deste ano. Com a queda do governo, o país ficou totalmente parado. E duas semanas após, Fr.Michael que faz parte da Comissão Justiça e Paz em Bissau, me ligou contando da situação de emergencia que estavam passando os presos e também os guarda prisionais. Não haviam mais comida e a unica alternativa seria libertar todos os presos naquele fim de semana.
Nos reunimos em Bafatá com algumas entidades que trabalham pelos direitos humanos e Nações Unidas, conseguiram um fundo para garantir pelo menos mais 15 dias de alimentação e assistencia médica. Me pediram para que ajudassem na logistica do dinheiro (na questão de compras, consultas e medicamentos para os presos). Até ai o meu contato era somente com os guardas e o diretor da prisão.
A cada vinda dos guardas para tomar o dinheiro, conversavamos um pouco sobre o trabalho na prisão, os presos, as dificuldades.... a partir daqueles dias, passei a visitar toda a semana, queria ver de perto como realmente vivem. Me deixavam entrar, pois sabiam que eu estava primeiramente em nome daquelas entidades que me deram a incumbencia de comprar seus alimentos mais principalmente porque era ligada a Missão Católica. Sem esquecer que alguns presos recebem a visita de um catequista e do padre semanalmente, e no ano passado um deles foi batizado, e ja esta se preparando para o Crisma.
A cada dia que passava estava mais envolvida com o trabalho na prisão, me perguntava: “O que mais Deus quer de mim? Já a quase 6 anos, trabalhando na escola, com crianças desnutridas, grávidas, e agora mais esta? Bom, se é isso que Ele quer, que continue a me acompanhar, estava disposta a aceitar este novo desafio.
Em uma manha, um dos chefes da prisão veio me avisar que haviam 8 presos que precisavam de atendimento médico. Na hora não sabia o que fazer, mas fui ao hospital pedi a um dos médicos que me acompanhasse na prisão para consultar os doentes, porém não tinham dinheiro para pagar a consulta. O médico, nem pensou duas vezes, terminou seu trabalho e fomos juntos à prisão. Consultamos os 8, vim para casa e separei os remedios que tinha e o que faltava compramos.
Fr.Michael consegui alguns projetos para ajudar no sustento da prisão e também principalmente aprenderem uma profissão e terem uma ocupação no tempo que passaram lá dentro. Um dos projetos era a construção de um forno de pão, que serviria para o café da manha e com a venda dos pães teriam um dinheiro para compra de alimentos ou remedios. E o outro a pintura em tecidos. Demos o inicio na construção do forno, acompanhei tudo de perto, a escolha do lugar, orçamento de materiais.... Em uma semana estava tudo pronto só faltava marcar o dia para a inauguração.
Fizemos uma experiencia alguns dias antes, de assar alguns pães, para garantir que tudo desse certo. Foi uma festa, lembro até agora a alegria dos presos de verem o pão saindo do forno, batiam palmas, aquilo era um sinal de esperança e vida, para aqueles que sonham um dia em retornar a sociedade.
No dia da inauguração, confesso que estava um pouco preocupada, não sabia como os presos podiam reagir com toda aquele movimentação, pois convidamos várias entidades que ajudaram no financiamento dos projetos. Quando cheguei, os presos estavam já no pátio, todos ansiosos para o grande dia. Sentaram todos juntos. Quando chegaram os convidados, um deles, um policial das Nações Unidas de Cabo Verde, entrou na cela, e perguntou: “Onde estão os presos?”. O guarda respondeu: “São aqueles que estão sentados no pátio.” Acharam que todos aqueles que estavam sentados eram convidados, ficaram admirados como os guardas conseguiam aquilo, tanta disciplina dos presos. Isto demonstra o respeito que os presos tem para com os guardas e para aqueles que tem lhes ajudado. Nesta prisão estão la 45 homens e 2 mulheres.
Sou grata a Deus, por mais esta experiência em minha vida, pretendo ajudá-los o máximo possível, dentro de minhas possibilidades, com a ajuda de Deus e as orações de vocês.
E a missão continua......


Adriana Nishiyama 

Missionária leiga na Diocese de Bafatá
Guiné-Bissau

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