sábado, 11 de maio de 2013

Dia das mães - por padre Orivaldo Robles


Um colega meu de seminário, nos anos 60, durante as férias, tinha o costume de reunir em casa os irmãos menores para explicar-lhes passagens da Bíblia. Numa dessas ocasiões, contou-lhes a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). Ao final, quis saber se haviam entendido ou restava alguma dúvida. Na inocência dos seus cinco anos, a irmãzinha caçula surpreendeu-o com um grande problema: “E onde estava a mãe dele”? Para a pequena deve ter parecido estranho que figura tão importante como a mãe não tivesse lugar na história. A parábola fala do filho descabeçado; do mais velho, ciumento; do pai misericordioso; cita até os empregados – mas sobre a mãe, nenhuma palavra. Pode?
Deus deve ter inventado a mãe a partir das necessidades do filho pequeno. Ao menor desconforto, ele exige-lhe a presença. Dela, de mais ninguém. Vá o pai acudir, se a hora for de mamar no seio! Quando chegar o tempo da mamadeira, ele poderá intervir. Mas aí já o grude do nenê com a mãe será tão firme que nem formão afiado remove. Igualmente a ligação dela com seu bebê. Ela finge não olhar, simula despreocupação, mas está sempre vigiando, quando um colo alheio o abriga. Fêmea nenhuma sustenta com sua cria ligação tão intensa ou prolongada. Em qualquer tempo, cultura ou lugar do mundo. Não existe pessoa normal a quem não horrorize nem revolte o abandono de um recém-nascido por sua mãe. Com toda a razão. É o comportamento mais avesso à natureza. Até fêmea de bicho protege o filhote que pariu.
Escritores e poetas exaltam a mãe. Há quem ache exagero. Coelho Neto é malhado pelo último verso do soneto famoso “Ser mãe”. Não sendo mulher nem mãe, não teria ele como opinar sobre maternidade. Eu discordo. Entendo que aos poetas é dado intuir realidades que não conseguem experimentar, mas delas misteriosamente ficam sabendo. Por isso falam com acerto de vivências que não precisam necessariamente sentir. Parece-me suficiente a leitura atenta da última estrofe para reconhecer-lhe a exatidão. Está lá: “Ser mãe é andar chorando num sorriso. / Ser mãe é ter um mundo e não ter nada. / Ser mãe é padecer num paraíso”.
Alguém expressaria melhor a contradição que afeta o íntimo de uma mulher que se torna mãe? Primeiro, o anseio de ser criadora da vida. Depois, a alegria de se descobrir carregando um novo ser já em caminho. E junto, insegurança e receio, indisposições e incômodos do corpo que se vai, aos poucos, convertendo em outro. Alguns meses passados e não se reconhecerá mais como a mesma que até ali foi. Contudo, ainda que estranha a si mesma, invade-a uma nunca antes provada alegria, que lhe promete um futuro de luz, que não sabe como virá. Por último, o sonhado nascimento do filho chega recheado por temores, incertezas, dúvidas... Quando não, por sofrimentos e angústias, que jamais pensou pudessem existir. Na dura certeza de que tudo estará somente começando.
Mistério surpreendente. Logo se vê esquecida das amofinações que enfrenta. Ei-la já com saudade daquele tempo em que engendrou o filho que agora descansa em seu regaço. Coelho Neto captou a estranha síntese de dor e riso, que se instalam no coração da mãe. Só mesmo Deus, Senhor da vida e do heroísmo que a sustentam, conhece de que foi feita a mulher a quem chamamos com esse nome.
Que Ele abençoe a todas. Sempre. Não só no segundo domingo de maio. 

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