Alguém
se lembra do filme “O Dia Seguinte”? Produção norte-americana de 1983, feita
originalmente para a TV, desenhava os efeitos de uma guerra nuclear entre União
Soviética e Estados Unidos. Era ambientada para Lawrence, no Kansas, cidade escolhida
por situar-se no centro do país. Pretendia mostrar que uma guerra nuclear iria
afetar a vida de todos, não importando onde vivessem. Hoje, a bem da verdade,
nada acontece que não se faça sentir no mundo inteiro. Desde Herbert Marshall McLuhan (1911-1980),
é aceito que vivemos numa “aldeia global”. Pelo menos no que tange ao
comportamento. Basta um maluco inventar alguma idiotice num canto
qualquer onde o Judas perdeu as botas para, do outro lado do mundo, alguém
achar bonito imitá-lo. A macaquice patrocinada pelos meios de comunicação de
todos os calibres faz tempo que mandou a privacidade para as cucuias.
Cada “especialista” que beberica sua
cerveja no bar apresenta um diagnóstico para as barbaridades dos noticiários.
Simplista, como toda explicação emocional e rasa. Poucos aprofundam as razões.
Os fatos, porém, são desaguadouros de inúmeros tributários, difíceis de
identificar, cujas nascentes têm, quase sempre, origens distintas e distantes.
Nunca se explicam por um único fator. Elementos vários contribuem para sua
gênese.
Há dez anos, na revista Interprensa
IP, o educador João Malheiro apontava algo a que não se dá atenção. Um
componente muito em voga é a deficiente educação para o prazer. Pai, educador
ou psicólogo pode afirmar quanto é difícil conduzir uma criança, lentamente,
mas de forma segura, a sair do seu mundinho pessoal para se abrir ao outro. No
entanto, sem essa conversão, “ela viverá sob o domínio do prazer sensível e
identificará – o que é um dos maiores enganos deste início de século –
felicidade com prazer”. Se no princípio
do milênio existia essa percepção, calcule-se agora.
Boa parte dos adolescentes de nossos
dias identifica felicidade com dormir quando e quanto quiser, vestir roupa de
grife, calçar tênis de marca, comer o que agrada e na hora que bem entender,
participar das festinhas e baladas que aguentar, adquirir os mais descolados
aparelhos eletrônicos do mercado, gastar sem limite no shopping, dispor do mais
sofisticado celular ou smartphone (com os aplicativos que desejar e sem
restrição de uso), andar em carrão importado e do ano, dispor de dinheiro sem
controle de gasto... Para garoto(a)s desse feitio felicidade nada tem a ver com
formação de caráter, educação, estudo, saúde, poupança, moradia, transporte,
segurança, respeito aos outros, bem-estar da sociedade, futuro da comunidade ou
do país. Desde que não falte um burro de carga para lhes satisfazer os caprichos,
tudo será válido. Para ele(a)s conquistar a felicidade nada mais é do que
seguir os impulsos de sua natureza voltada ao prazer e ao consumo imediatos.
Não há como não perceber que vai
crescendo o número de pais que aceitam essa “filosofia de vida”. Recusam-se ao
trabalho de orientar a conduta dos filhinhos mimados. Jamais se revestem da
coragem de dizer “não”. Convenceram-se
de que os seus anjinhos sempre estão certos: aos pais não cabe tolher o
desenvolvimento da personalidade deles. Princípios religiosos, morais, sociais,
pessoais..., para quê?
Tudo bem. Mas como vai ser o amanhã
(que já está sendo hoje)?
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