sábado, 6 de julho de 2013

Lições de futebol - por padre Orivaldo Robles

Sabe aquela propaganda do bancário que cresceu ao lado do amigo e, para cada etapa que cita, vai repetindo: “Ele, titular; eu, banco”? Fosse comigo, a frase seria: “Ele, titular; eu, gandula”. Nem banco seria. Futebol, devo admitir, nunca foi exatamente minha praia. Apesar de eu ter sido fominha por bola e jogar o mais que podia. Foi o único esporte que pratiquei. Mas, se tivesse cometido a burrice de tentá-lo profissionalmente, na certa morreria de fome. Em campo fui sempre ponta-direita. Daqueles antigos, que vestiam a camisa sete, carregavam a bola até à linha de fundo e cruzavam, na esperança de que aparecesse alguém na área para mandá-la às redes. Tive desempenho medíocre, reconheço. Marquei também gols importantes. Menos, porém, do que se contam nos dedos das mãos.
Como a maioria dos brasileiros, aprecio uma partida de futebol bem jogada.  Sobretudo da seleção brasileira. Só que não me deixo engambelar por manobras politiqueiras, que exploram a paixão do povo com o propósito de angariar simpatia e votos. Interesso-me pela peleja desportiva, pelo esforço dentro de campo, pela vitória honesta. Se por goleada, melhor ainda. Sou do tempo em que, nos jogos da seleção brasileira, a pergunta era de quanto tinha ganhado. Ela não perdia.
Reconhecendo, embora, os problemas de toda ordem que, nestes dias, assolam o País, não me pude furtar ao sabor da vitória, domingo passado, 30 de junho, sobre a seleção espanhola de tantas e merecidas glórias. A Copa das Confederações me deu enorme alegria. Eu vinha com a seleção “roja” atravessada na garganta. Queria que a final fosse Brasil x Espanha. Mas estava certo de que a Espanha venceria.
Eu, 47 milhões de espanhóis residentes na Espanha e todos os outros espalhados pelo mundo. Era quase impossível nossa equipe, reunida há pouco tempo, vencer uma potência dirigida há cinco anos pelo mesmo treinador e composta pelos melhores jogadores da Europa. Para eles deve ter sido muito duro engolir a derrota. Pior ainda, pelo placar elástico e pelo domínio brasileiro em campo.
Mas nada justifica patriotada. Nem desvalorização de conquista alheia. Como tentou jornalista espanhol, ao entrevistar o treinador e, em seguida, o goleiro da Espanha. Por duas vezes, ele insistiu em atribuir a derrota ao cansaço dos jogadores. Ao fato de, três dias antes, contra a Itália, terem sustentado uma partida extenuante, que se prolongou até ao tempo extra e às penalidades. Autênticos e elegantes, treinador e arqueiro reconheceram que os brasileiros tinham jogado melhor que os espanhóis. Simplesmente isso.
Esqueceu-se o repórter que, na 1ª fase, a Itália tivera adversários pedreira, como Brasil, México e Japão. Enquanto isso, a Espanha enfrentara Uruguai e as babas Nigéria e Taiti. Na final, em Salvador, a Itália jogou contra o Uruguai, sob o sol das treze horas. Teve nova prorrogação e nova disputa de penalidades. E venceu. Contra o Brasil, no Maracanã, a Espanha jogou os 90 minutos regulamentares, à noite e em temperatura bem mais amena. Quem experimentou maior cansaço?

Por que certas pessoas sentem dificuldade em admitir que outras – em idênticas ou até em piores condições – levem sobre elas uma justa vantagem? Será tão difícil suportar que outros nos superem em algum aspecto? Por que a ânsia de ser superior sempre e em tudo?  

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