Sabe
aquela propaganda do bancário que cresceu ao lado do amigo e, para cada etapa
que cita, vai repetindo: “Ele, titular; eu, banco”? Fosse comigo, a frase
seria: “Ele, titular; eu, gandula”. Nem banco seria. Futebol, devo admitir,
nunca foi exatamente minha praia. Apesar de eu ter sido fominha por bola e
jogar o mais que podia. Foi o único esporte que pratiquei. Mas, se tivesse
cometido a burrice de tentá-lo profissionalmente, na certa morreria de fome. Em
campo fui sempre ponta-direita. Daqueles antigos, que vestiam a camisa sete,
carregavam a bola até à linha de fundo e cruzavam, na esperança de que
aparecesse alguém na área para mandá-la às redes. Tive desempenho medíocre,
reconheço. Marquei também gols importantes. Menos, porém, do que se contam nos
dedos das mãos.
Como
a maioria dos brasileiros, aprecio uma partida de futebol bem jogada. Sobretudo da seleção brasileira. Só que não
me deixo engambelar por manobras politiqueiras, que exploram a paixão do povo
com o propósito de angariar simpatia e votos. Interesso-me pela peleja
desportiva, pelo esforço dentro de campo, pela vitória honesta. Se por goleada,
melhor ainda. Sou do tempo em que, nos jogos da seleção brasileira, a pergunta
era de quanto tinha ganhado. Ela não perdia.
Reconhecendo,
embora, os problemas de toda ordem que, nestes dias, assolam o País, não me
pude furtar ao sabor da vitória, domingo passado, 30 de junho, sobre a seleção
espanhola de tantas e merecidas glórias. A Copa das Confederações me deu enorme
alegria. Eu vinha com a seleção “roja” atravessada na garganta. Queria que a
final fosse Brasil x Espanha. Mas estava certo de que a Espanha venceria.
Eu,
47 milhões de espanhóis residentes na Espanha e todos os outros espalhados pelo
mundo. Era quase impossível nossa equipe, reunida há pouco tempo, vencer uma
potência dirigida há cinco anos pelo mesmo treinador e composta pelos melhores
jogadores da Europa. Para eles deve ter sido muito duro engolir a derrota. Pior
ainda, pelo placar elástico e pelo domínio brasileiro em campo.
Mas
nada justifica patriotada. Nem desvalorização de conquista alheia. Como tentou
jornalista espanhol, ao entrevistar o treinador e, em seguida, o goleiro da
Espanha. Por duas vezes, ele insistiu em atribuir a derrota ao cansaço dos
jogadores. Ao fato de, três dias antes, contra a Itália, terem sustentado uma
partida extenuante, que se prolongou até ao tempo extra e às penalidades.
Autênticos e elegantes, treinador e arqueiro reconheceram que os brasileiros
tinham jogado melhor que os espanhóis. Simplesmente isso.
Esqueceu-se
o repórter que, na 1ª fase, a Itália tivera adversários pedreira, como Brasil,
México e Japão. Enquanto isso, a Espanha enfrentara Uruguai e as babas Nigéria
e Taiti. Na final, em Salvador, a Itália jogou contra o Uruguai, sob o sol das
treze horas. Teve nova prorrogação e nova disputa de penalidades. E venceu.
Contra o Brasil, no Maracanã, a Espanha jogou os 90 minutos regulamentares, à
noite e em temperatura bem mais amena. Quem experimentou maior cansaço?
Por
que certas pessoas sentem dificuldade em admitir que outras – em idênticas ou
até em piores condições – levem sobre elas uma justa vantagem? Será tão difícil
suportar que outros nos superem em algum aspecto? Por que a ânsia de ser
superior sempre e em tudo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário