sábado, 3 de agosto de 2013

O papa no Brasil - por padre Orivaldo Robles

Ainda por muito tempo se falará da visita do papa Francisco. Para os mais velhos ela lembrou a primeira visita de um papa ao Brasil. Foi a de João Paulo 2°, em 1980. Tudo era novidade então. A começar pelo beijo no solo do aeroporto, ao desembarcar, em 30 de junho. No espaço de 12 dias, ele percorreu 14 mil quilômetros e 13 cidades: Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Recife, Salvador, Belém, Teresina e Fortaleza. Uma das mais longas de suas 207 viagens apostólicas, nos quase 27 anos de pontificado (1978-2005). Algumas foram curtas, para o interior da Itália. Assim mesmo, comparado aos predecessores, Karol Wojtyla viajou mais do que todos juntos, de São Pedro a João Paulo 1°. Nessa primeira viagem ao Brasil, aos 60 anos, esbanjava vigor de um atleta. Nascido e criado na Polônia, além de vida extremamente regrada, o tempo livre ele preenchia com a prática do alpinismo. Nenhuma surpresa, portanto, que exibisse um físico invejável. Numa dessas revistas de amenidades, que se folheiam em salas de espera de médico ou dentista, li, na época, declaração de uma socialite brasileira para quem ele seria um dos homens mais sexy do mundo. Que observação profunda, não?
Lá em casa, a primeira visita de um papa teve significado especial. Pouco antes, o pai sofrera um AVC. É uma doença chata, que também afeta o emocional, levando o paciente a chorar por qualquer motivo. Qualquer motivo, uma pinoia! Vá saber o que muda no íntimo do coitado. O pai sempre fora um leão diante de dificuldades. Agora, a todo o momento, enchia os olhos de lágrimas. Comendo ou bebendo, se, do canto da boca, lhe escorria comida ou bebida; se derrubava o garfo ou o copo, parava na hora e começava a chorar. Era uma humilhação sentir-se incapaz de atos rotineiros. Só com dificuldade entrava em automóvel ou alcançava o meio-fio da calçada. Eu tinha que lhe sustentar a perna, cuidando que não tropeçasse feito bêbado. 
Por isso, aquela a visita do papa lhe fez enorme bem. Foram 12 dias cheios de novidade e de intensa emoção. Ele passava diante da TV de manhã à noite. A Globo não mostrava outra coisa. Cobriu todos os passos do papa. De Marialva eu vinha ver o pai. Encontrava-o na salinha minúscula, sentado no sofá, de olhos fitos na TV. Lacrimejantes, quase sempre. Não conseguia ver o papa sem chorar. A mãe lhe dava, em vez de lenço, uma toalha de rosto.
Seu AVC não foi daqueles de aleijar. Ele recebeu bom atendimento médico. Além da terapia lacrimal da televisão. A seu modo, tudo funcionou. Menos de um ano depois, andou no caminhão Mercedes 1113 de um sobrinho. Sem ajuda de ninguém para subir ou descer.
Agora, na Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco fascinou a todos. Difícil comparar as duas visitas. Cada uma teve sua magia e sedução. O papa, por si, não muda ninguém. Nós é que precisamos mudar para uma vida de maior fraternidade.

Senti que o pai não estivesse ali na sala, na frente da TV. Estou certo de que, de novo, se desmancharia em lágrimas. Espanhol, não precisaria de tradução para os discursos feitos num castelhano de sotaque argentino. Como qualquer brasileiro, deixar-se-ia encantar por esse homem que, embora sendo o papa, demonstra a mesma simplicidade que um pobre lavrador, no sofá da sala, conversando diante da TV.

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