segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Padre Agredido - por padre Orivaldo Robles


No Oeste americano heróis eram uns bestalhões com uma pistola Smith & Wesson cano longo, boa pontaria e rapidez no saque. Depois da conquista da Lua e do envio de um robô a Marte, devia-se saber que heroísmo é outra coisa. Triste engano. Parte da nossa sociedade recuou à violência do faroeste. Voltaram os valentões que rosnavam: “Esta cidade é pequena demais para nós dois”. Hoje dizem: “Rapa fora que neste bairro mando eu”. Qualquer cidade média ou grande abriga bolsões de pobreza dominados por boçais que impõem sua vontade como lei.  
Professores são agredidos e intimidados por alunos, com a anuência dos pais. Maurício Girardi, professor de Física no Colégio Estadual Piratini, de Porto Alegre, postou seu desabafo na Internet. Por advertir aluna que, além de faltar muito, não prestava atenção e ainda atendia o celular em aula, foi denunciado à polícia. Ele confessa: “Tive que comparecer à 8ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre (...) por ter constrangido uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores”. Sorte sua não ter levado uns sopapos de algum irmão da garota – menor, evidentemente. Quem ainda não completou 18 anos pode aprontar à vontade. Não há perigo de ser castigado. É menor; tudo o que faz está certo. Errado é o tonto que não concorda.
Semana passada, o pároco de N. S. do Rosário, no Conjunto Requião, padre Adacílio Félix de Oliveira, foi agredido por um adolescente de 17 anos. Motivo: teve a ousadia (onde já se viu?) de anotar a placa do carro no qual o artista transitava sobre o passeio em frente à igreja. Isso mesmo, em cima da calçada, que é dos pedestres. Está documentado por câmara de vigilância. Acompanhava-o um amigo, este maior. Não dá para saber quem dirigia. Eles perceberam o gesto do padre e se afastaram. Voltaram de bicicleta e o menor se pôs a proferir insultos grosseiros. O padre respondeu e ele não gostou. Assim, do nada, desferiu-lhe um murro no rosto e um pontapé na perna. Do murro Adacílio se esquivou parcialmente, mas o chute atingiu-o em cheio. O maior reconheceu o erro do colega, admitindo que ele perdera a cabeça.
O episódo enseja algumas reflexões. Não havia congestionamento na rua. Foi pura bravata para contestar regras de convivência civilizada. Consta que não foi a primeira vez. Está correto deixar a pista de rolamento (da rua) para conduzir automóvel sobre a calçada dos pedestres? Na escadaria do templo reuniam-se, naquela hora, várias crianças. E se, de repente, saíssem correndo pela calçada? Criança não avisa que vai correr. A calçada é delas, não dos carros. Era errado o responsável pela igreja tomar providência? Por que um menor não pode ser chamado à atenção? Por que está sempre certo e os outros, sempre errados?
Padre Adacílio chegou ao Requião com 34 anos. Todos o conhecem. Nestes 9 anos, deu o melhor de si pelo bairro e pela comunidade. Os primeiros fios brancos na cabeça ele não os conseguiu na ociosidade. Sempre trabalhou como um mouro. Nas suas construções, era comum vê-lo entre os operários, como mais um.  Ergueu obras que bairros habitados por gente de maiores posses ainda não conseguiram. É só ir até lá e conferir. Qual a razão para ser assim estupidamente agredido? Que mal fez ele para receber esse tratamento? Após 9 anos de serviço, não merecia coisa melhor? 

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