No Oeste americano
heróis eram uns bestalhões com uma pistola Smith & Wesson cano longo, boa
pontaria e rapidez no saque. Depois
da conquista da Lua e do envio de um robô a Marte, devia-se saber que heroísmo
é outra coisa. Triste engano. Parte da nossa sociedade recuou à violência do faroeste.
Voltaram os valentões que rosnavam: “Esta cidade é pequena demais para nós
dois”. Hoje dizem: “Rapa fora que neste bairro mando eu”. Qualquer cidade média
ou grande abriga bolsões de pobreza dominados por boçais que impõem sua vontade
como lei.
Professores são agredidos e intimidados
por alunos, com a anuência dos pais. Maurício Girardi, professor de Física no
Colégio Estadual Piratini, de Porto Alegre, postou seu desabafo na Internet.
Por advertir aluna que, além de faltar muito, não prestava atenção e ainda atendia
o celular em aula, foi denunciado à polícia. Ele confessa: “Tive que comparecer
à 8ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre (...) por ter constrangido uma
adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para
importunar, atrapalhar seus colegas e professores”. Sorte sua não ter levado
uns sopapos de algum irmão da garota – menor, evidentemente. Quem ainda não
completou 18 anos pode aprontar à vontade. Não há perigo de ser castigado. É
menor; tudo o que faz está certo. Errado é o tonto que não concorda.
Semana passada, o pároco de N. S. do
Rosário, no Conjunto Requião, padre Adacílio Félix de Oliveira, foi agredido
por um adolescente de 17 anos. Motivo: teve a ousadia (onde já se viu?) de
anotar a placa do carro no qual o artista transitava sobre o passeio em frente
à igreja. Isso mesmo, em cima da calçada, que é dos pedestres. Está documentado
por câmara de vigilância. Acompanhava-o um amigo, este maior. Não dá para saber
quem dirigia. Eles perceberam o gesto do padre e se afastaram. Voltaram de
bicicleta e o menor se pôs a proferir insultos grosseiros. O padre respondeu e
ele não gostou. Assim, do nada, desferiu-lhe um murro no rosto e um pontapé na
perna. Do murro Adacílio se esquivou parcialmente, mas o chute atingiu-o em
cheio. O maior reconheceu o erro do colega, admitindo que ele perdera a cabeça.
O episódo enseja algumas reflexões. Não
havia congestionamento na rua. Foi pura bravata para contestar regras de
convivência civilizada. Consta que não foi a primeira vez. Está correto deixar
a pista de rolamento (da rua) para conduzir automóvel sobre a calçada dos
pedestres? Na escadaria do templo reuniam-se, naquela hora, várias crianças. E
se, de repente, saíssem correndo pela calçada? Criança não avisa que vai
correr. A calçada é delas, não dos carros. Era errado o responsável pela igreja
tomar providência? Por que um menor não pode ser chamado à atenção? Por que está
sempre certo e os outros, sempre errados?
Padre Adacílio chegou ao Requião com 34
anos. Todos o conhecem. Nestes 9 anos, deu o melhor de si pelo bairro e pela
comunidade. Os primeiros fios brancos na cabeça ele não os conseguiu na
ociosidade. Sempre trabalhou como um mouro. Nas suas construções, era comum
vê-lo entre os operários, como mais um. Ergueu
obras que bairros habitados por gente de maiores posses ainda não conseguiram.
É só ir até lá e conferir. Qual a razão para ser assim estupidamente agredido?
Que mal fez ele para receber esse tratamento? Após 9 anos de serviço, não merecia
coisa melhor?
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