A Constituição
brasileira, no Parágrafo único do Art. 1°, dispõe que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos...”. Filosoficamente a afirmação é um pouco discutível,
mas deixa pra lá. Entendemos que aqui se fala do poder político. Após décadas de
submissão aos governos militares, o Congresso Nacional, em outubro de 1988, vencidos
dois anos de trabalho, apresentou aquela que Ulysses Guimarães chamou a “constituição
cidadã”. O brasileiro de 43 anos de idade, até então tratado como criança
pela ditadura, recobrava o direito de
escolher seus dirigentes políticos. Era para muitos brasileiros a primeira vez
que podiam eleger o supremo mandatário da Nação. Não para mim, que já a tivera em
1960, um ano depois de receber o título de eleitor. Na ocasião, concorriam Jânio
Quadros (PDC + UDN), Henrique Teixeira Lott (PSD + PTB) e Adhemar de Barros
(PSP).
Para o bem ou para
o mal, somos diferentes de outros povos. Ligamo-nos mais ao futebol do que à política.
Feitas as contas, é provável que no Brasil tenha morrido mais gente por causa da
bola do que por refregas eleitorais, como em outros países. Somos talvez únicos
no cultivo de uma estranha mania: quando não temos, fazemos tudo para
conseguir. Depois que conseguimos, não sabemos cuidar. Deixamos perder logo e
de forma vexatória. Exemplos? Pois não. Primeiro, no futebol: levamos 40 anos para
conquistar em definitivo a taça Jules Rimet. Com 3,8 k de ouro puro, verdadeira
obra de arte, era um troféu único e inigualável. Treze anos em nossas mãos e deixamos
que fosse roubada e derretida. Nenhuma notícia sobre punição dos ladrões. Exemplos
na política: em 1960, Jânio Quadros era o maior fenômeno visto até então. Com meus
19 anos, dei-lhe um dos 5,6
milhões de votos, maior votação até ali obtida no Brasil, mais de 2 milhões à
frente de Lott. Pois renunciou 6
meses e 25 dias depois. Lá se foi nossa democracia. Em 1989, a ânsia pelos
direitos políticos era tanta que a presidência da república foi disputada pelo número
descomunal de 22 candidatos. O vencedor foi apeado do poder2½ anos depois: único
presidente do Brasil deposto por impeachment. A vontade do povo tem que ser sistematicamente
desprezada pelos ocupantes do poder?
Em poucos dias,
elegeremos 17 homens e mulheres para os nossos Executivo e Legislativo. Vamos confiar-lhes
parte considerável do nosso destino comum. Então, senhor(a) prefeito(a) e vice,
senhores e senhoras vereadores e vereadoras que elegeremos, vamos combinar? Que
tal continuar sorrindo e visitando os bairros? Continuem dando atenção às
pessoas, até às simples e pobres, está certo? Mesmo sem repórter observando,
continuem a mostrar interesse pelos problemas das pessoas. Mas de verdade, não
para fazer figura bonita. Providenciem soluções técnicas, eficazes e
transparentes. Não as de melhor aparência ou vantajosas para poucos. Montem
equipes enxutas de colaboradores. Escolham os melhores quadros, mesmo de fora
da coligação. A campanha eleitoral estará terminada. Sua obrigação será com
Maringá toda, não com partidários exclusivos. Nos exercício de suas funções,
não se esqueçam de que o poder continua nosso. Apenas o emprestamos a vocês por
4 anos. Vocês são obrigados – não nos fazem nenhum favor – a usá-lo para o bem
de todos nós. Não para cuidar de seus interesses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário