sábado, 22 de setembro de 2012

Aprendendo com Brecht - por padre Orivaldo Robles


Campanha eleitoral é boa ocasião para reler “O analfabeto político”, de Bertolt Brecht (1898-1956). Diz a conhecida página do dramaturgo, poeta e romancista alemão: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, os preços do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. O texto refere-se à política de nível federal. Mas aplica-se também ao município, que é onde vivemos e onde tudo começa.
Ilude-se quem diz não dar atenção à política. Como se fosse possível viver sem ela. Ela nos envolve inteiramente como o rio envolve o peixe. Toda ideia, toda palavra, todo cálculo, toda decisão, todo gesto de uma pessoa traz em seu bojo uma postura política. Quem concebe política como o conjunto de ações voltadas exclusivamente à conquista e ao exercício do poder, de política não entende nada.
Política, do grego “pólis”, quer dizer o agrupamento organizado de pessoas que vivem juntas. Não é mera reunião de indivíduos juntados ao acaso. Pólis supõe consciência e decisão de constituir um grupo. De recusar vida solitária, isolada dos outros. Ao integrar a pólis, a pessoa assume participação “política”, i. é, aceita espaço comum, valores específicos e normas definidas, além de tomar parte nas decisões que afetam a vida de todo o grupo. Na língua latina, mais ou menos com o mesmo sentido, encontramos “civitas”. Nela vivem os “cives”, os cidadãos. O puro agrupamento de casas dos cidadãos não forma civitas, mas “urbs”. Nela reside a população urbana.
Na raiz de tudo repousa a noção de cidadania. Acostumamo-nos a nos ver como habitantes de um país, de uma unidade da Federação, de um município. Habitante ocupa uma área marcada por limites geográficos. É uma configuração estática. Cidadão se compromete com tudo o que se passa ao seu redor. Responsabiliza-se pelo que acontece no município, estado e país. O conceito é dinâmico. Envolve não só estar, mas atuar em vista do melhor. Melhor para a comunidade. Para todos, não para o ganho individual apenas.
Quem não vive sozinho num fim de mundo, isolado de tudo e de todos, querendo ou não, está envolvido com política. É chamado a exercer a cidadania. “Política” e “cidadania” dizem respeito à responsabilidade de cada um. Não faz sentido encher a boca e proclamar: “Não me meto em política”. Você pode não se meter, mas a política se mete em sua vida. Até sem seu conhecimento e contra sua vontade. Só um ignorante supõe que a política não lhe diz respeito e, portanto, pensa alhear-se dela. Não percebe que em sua vida tudo tem conotação política.
Nas eleições participe com seu voto cidadão. Mostre consciência política. Preocupe-se com o bem da comunidade. Despreze o voto interesseiro, consumista, aproveitador. Quem vota pensando só em vantagem pessoal é mais do que um ignorante. É, na verdade, um bandido. Um malfeitor que ameaça todos os seus concidadãos.

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