segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O "bom" velhinho - por padre Orivaldo Robles

A senhora esperou-me atravessar a rua e me deteve: “Foi bom encontrá-lo. Nesta época do ano, lembro sempre seu ensinamento: que Natal é festa do Menino Jesus, não do Papai Noel. Tinha que lhe contar, sabe? Ano passado, levei meu sobrinho ao shopping. Queriam fazê-lo sentar-se no colo do Papai Noel. Ele se recusou. Muito firme, disse: ‘Natal é aniversário do Menino Jesus, não do Papai Noel’. Fiquei feliz de ver como ele aprendeu bem o que a gente ensina em casa”.
O período natalino volta com força e o velho gordo reaparece nas ruas, shoppings e lojas de toda a cidade. Com esse calorão mais forte a cada ano, é preciso coragem para envergar fardão vermelho, botas grossas, vasta barba e cabelos compridos. Com aquela cara de feliz, sorrindo para os pequenos. Às vezes um energúmeno resolve puxar-lhe a barba para conferir se é de verdade. Porque existe Papai Noel com barba verdadeira. Alguns a deixam crescer para compor uma fantasia mais realista. Imagino o calor que Papai Noel suporta em Araçatuba, Ilha Solteira ou Cuiabá.
Devo admitir que não alimento mais a ojeriza que, no passado, eu nutria pelo velho de uniforme vermelho. Consequência da idade, talvez. Com o passar dos anos, a gente vai se conformando com as limitações próprias e alheias. Esforço-me por compreender esses senhores rotundos, sorridentes, de barba branca, interessados em dar alegria às crianças nas portas das lojas. Estou certo de que preferem o turno da noite, quando a temperatura baixa e as luzes brilham. O calor do sol os maltrata e judia das crianças. Dá dó vê-las arrastadas pelos pais, chorando, nariz escorrendo, doidas para voltar para casa.    
  Nunca tive intimidade com Papai Noel. Criado na roça, atravessei minha infância inteira sem ele. Nem dei pela sua ausência. Os meninos à minha volta, pobres como eu, também o desconheciam. Éramos felizes à nossa moda. Garotos do sítio, tínhamos pai e mãe para cuidar de nós, dar-nos o necessário e nos ensinar como viver. Nossos brinquedos não eram comprados. Os de hoje nem existiam. Menos ainda esses modernos, cheios de nove horas, que já vêm brincados. Criança de hoje não brinca; aperta botões. Ganha umas geringonças que trazem prontas todas as possibilidades e recursos. Ela só precisa ligar. Quem brinca é a máquina. A criança fica assistindo.  
Na nossa infância não precisávamos, talvez, do Papai Noel. Dos pais, sim, nós precisávamos. Do pai para os meninos, da mãe para as meninas. Eram eles que fabricavam nossos brinquedos. E brincavam conosco. Hoje são as crianças que ensinam aos pais como funciona o brinquedo. Pai e mãe servem para dar dinheiro. E basta.
Sou mais condescendente com Papai Noel. Mas ele continua o mesmo intruso. O invasor de um espaço que não é seu. Natal celebra o nascimento de Jesus. Jesus é o grande presente dado por Deus à humanidade. Papai Noel não dá. Ele tira. Tirou o dono da festa e tomou o seu lugar.
Os shoppings do Brasil investem quase trezentos milhões em publicidade neste Natal. Para vender presentes e ganhar dinheiro. Ninguém pensa no Menino Jesus, que não sabe fazer propaganda. Quem manda no Natal é Papai Noel.

Estranho Natal o nosso, não? O aniversariante levou cartão vermelho. E um intruso virou o dono da festa. 

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