sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Finados, Dez Pensamentos



Transcrevo aqui texto de Dom Orlando Brandes, arcebispo de Londrina, sobre o Dia de Finados. Serve para nossa reflexão sobre o sentido desta data.

1. O mundo passa. A vida é breve. A morte é certa. Quem faz o bem e cumpre o dever não precisa ter medo da morte, pelo contrário, espera a vida. O bem já é o céu antecipado. Nosso corpo na eternidade será glorioso, incorruptível, espiritual, imortal. O que parece ser um fim, um fracasso é na verdade um começo, um início. Quem tem fé já vive o início da festa eterna.


2. O cemitério é uma cidade viva. Sim, ali está viva a saudade e a recordação da vida dos nossos entes queridos. É cidade da saudade, da esperança na ressurreição, cidade que leva a pensar e até a mudar de vida. É a cidade da igualdade social, da paz, da transformação da morte em vida.

3. Os túmulos são também berços. Deus promete abrir os túmulos e então nascemos para a nova vida junto Dele. Eis o início da nova vida. A morte é fim da vida terrena e início da vida nova, da plenitude da vida. Descemos para o seio da terra e entramos no seio de Abraão, isto é, de Deus. Descemos ao túmulo, para subir aos céus. Voltamos para a terra para voltar ao Criador e com Ele conviver.

4. Levamos flores neste dia. A flor vem de uma semente e de um botão que morreu. Eis o que é a páscoa pessoal. A flor é o símbolo de nossa realidade pascal. Ela é também sinônimo de gratidão, respeito, carinho, homenagem para quem esteve entre nós e está vivo em Deus, no jardim celeste e suas mansões. Transformemos o deserto em jardim.

5. Neste dia costumamos acender velas. De fato, a luz das boas obras que nossos mortos praticaram ainda ilumina. O esplendor do bem, a luminosidade do amor não passa. O bem não morre. A vela acesa é símbolo da fé que transforma as trevas em luz e projeta o futuro. Somos como velas que quanto mais se consomem, tanto mais iluminam. Brilhe vossas boas obras, pediu Jesus.

6. Finados é dia de reflexão, de retiro, de interiorização. A morte nos faz todos iguais. Acabam as classes sociais. A morte faz pensar. Ela é escola de filosofia. Impele a vencer ilusões, enganos porque ajuda a parar, a rezar, a rever a vida. A morte faz parte da vida, é nossa irmã. Ela é parto e porta para a plenitude, a glória, a eterna felicidade. Morte é passagem para outra margem, é ponte que leva ao rumo certo.

7. As coroas sobre os túmulos querem lembrar a coroação da vida, do bem, do amor que os nossos mortos realizaram. No céu seremos coroados pela S. S. Trindade, tomaremos posse do reino. A vida termina com o coroamento da pessoa humana, chamada a reinar com Cristo. Quem combateu o bom combate, receberá a coroa da glória.

8. A morte é benção porque através dela entramos na vida. Ela é condição para a glorificação dos pecadores perdoados. A face do Senhor é vossa verdadeira pátria. A morte não é inimiga, porque ela ajuda a viver com retidão e a praticar a justiça, o bem, o amor. Pensar na morte não é patologia, é sabedoria. “Pensa na morte e não pecarás”. Diante dos túmulos nós rezamos: “tu foste o que eu sou, eu serei o que tu és”.

9. A pior morte é o pecado, ou seja, a morte espiritual. A boa morte que devemos desejar e pedir, é a morte do egoísmo, do mal, do pecado, portanto a morte mística que nos torna altruístas, servidores, solidários. A morte biológica foi vencida pela ressurreição do Senhor. Jesus matou a morte. Somos seres de esperança.

10. Levaremos o amor com que fizemos todas as coisas. O amor não passa, o bem é eterno, a alma é imortal. Nossas boas obras são passaporte para o céu. Nossa vida não é tirada, mas transformada. A promessa de Jesus a quem se converte é esta: “hoje estarás comigo no paraíso”. Não há reencarnação na fé cristã. O sangue de Jesus é que salva e a fé nos torna justos, puros, santos, agradáveis a Deus. Um gesto de amor vale mais que toda beleza das coisas e a massa do universo. Somos uma cloaca, diz Pascal, que o sangue de Jesus lavou e perfumou. Nossa grandeza está em reconhecer nossa miséria e confiar na misericórdia.

Nosso Planeta, Nossa Casa


Este é o nome de um filme/documentário sobre a situação do planeta Terra. Com imagens belíssimas, uma trilha sonora envolvente, o documentário tem uma única personagem: a Terra. É um depoimento emocionado do nosso planeta que se sente ameaçado por nós, seres humanos.
Vale a pena assisti-lo e divulgá-lo. Serão as pequenas atitudes que farão a diferença.

domingo, 25 de outubro de 2009

Carta de Dom Anuar Battisti aos Jovens - Conclusão

5 - JOVEM, AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO

Somos pessoas inseridas numa cultura, temos determinados hábitos, fazemos certas coisas por força do tempo e do espaço em que vivemos.
Somos seres históricos e situados numa localidade concreta. Estamos todos inseridos num ambiente de pessoas, seja na família, na Igreja, no trabalho, na escola etc. Todos temos relações humanas que nos acrescentam e nos transformam. Se você, jovem, escolher este caminho de maturidade cristã – busca do sentido da vida, integrando as dimensões da pessoa humana, vivendo uma afetividade saudável – o próximo passo será inevitável: ser agente de transformação no mundo a serviço do Evangelho. O jovem que faz todo este caminho de busca da felicidade encontra, necessariamente, a transformação de si. É impossível continuar sendo o mesmo depois de uma verdadeira tomada de consciência. Quem toma consciência de si transforma sua vida, muda seus hábitos, coloca-se no grupo dos que trabalham por um mundo melhor. Isso é ação do Espírito Santo, que transforma os caídos e machucados em pessoas revigoradas, tornando-os luz para o mundo, fermento na massa, causa de mudança nas estruturas injustas. Aqui está o princípio para se organizar um projeto pessoal de vida.
O jovem deve ser agente de transformação no seu próprio meio. Quantas pessoas perecem pela falta da justiça, pelo desrespeito à dignidade humana. Quantas estão excluídas do progresso da ciência e da técnica. Quantas são vítimas da concentração da renda e da riqueza produzida, sem falar da falta de paz, do meio ambiente depredado etc. Dentro da juventude reside uma força muito grande de transformação de si mesma para transformar as estruturas injustas.
Você, jovem, precisa cada vez mais assumir o protagonismo próprio do jovem no mundo, na sociedade, na Igreja. Não pode deixar que os outros façam o que você pode e deve fazer. O compromisso de um mundo melhor depende de todos, principalmente do dinamismo e da coragem dos jovens. Recordo aqui o gesto solidário do Bom Samaritano, que vendo o caído, sente compaixão, aproxima-se e cura-lhe as feridas. Jesus diz ao mestre da lei que queria saber o que fazer para possuir a vida eterna: “Vá e faça a mesma coisa” (Lc 10, 37).

6 - A MÍSTICA PARA O JOVEM HOJE

Querido jovem, você não está sozinho. Está com a Igreja, comunidade dos seguidores de Jesus Cristo. Não somos uma comunidade perfeita, mas em nós há o desejo sincero e autêntico de seguir o Cristo, de nos configurarmos cada vez mais a Ele, nosso único e bom Pastor. Conte comigo, com minha amizade, venha também ser um discípulo missionário de Jesus Cristo.
Para isso Jesus, consciente de nossas fraquezas, deu-nos todos os meios necessários para levar adiante o seu pedido missionário.
Jesus Cristo nos indica, primeiramente, sentar aos seus pés e ouvir no silêncio de nossa consciência a voz do Pai. Deixar-se tocar pela oração pessoal, pelo cultivo de uma espiritualidade que fomente em nós o desejo da missão, do encontro com o outro. Na comunidade cristã rezamos uns pelos outros, fazemos a oração comunitária, de forma especial a santa Missa, onde nos encontramos com Deus que se faz alimento na Palavra e no seu Corpo e Sangue.
Mas também encontramos Deus nos outros sacramentos.
São sete que Ele permitiu que conhecêssemos, o suficiente para recebermos as graças necessárias à nossa vocação cristã. Jovem, veja no sacramento um valor para a sua vida, de forma especial a Eucaristia e a confissão.
Somente quem fez a experiência da graça dos sacramentos pode afirmar a beleza que é uma boa confissão: mais que “limpar” nossos pecados, ela nos dá a oportunidade de voltar à casa do Pai. A Eucaristia, palavra que significa “obrigado”, traz para nós a presença real de Jesus Cristo, uma grande ação de graças a Deus, um grande “obrigado” por ter nos entregue seu memorial perene.
Aos doentes, aos pobres e descartados Jesus sempre reservou um encontro pessoal, restaurador.
Nós também, ao nos encontrarmos com eles, estamos nos encontrando com o próprio Cristo que sofreu na cruz por nós.
Jovem, não dá para ser de Jesus Cristo sem reservar momentos especiais para estar com Ele.
Esse contato com Ele anima o nosso projeto de vida, fortalece o desejo de santidade, dá sentido aos compromissos com os pobres e sofredores, aumenta a nossa fé e nos torna capazes de amar e de sermos amados.

CONCLUSÃO


“Eu lhes escrevo, jovens, porque vocês são fortes” (1Jo 2, 17). Dentro de vocês há uma força muito grande. Se soubessem a força que mora em vocês, transformariam o mundo. Sairiam dessa tibieza e estagnação que muitas vezes os assolam.
Chegamos ao fim de nossa carta, mas não de nossa amizade e diálogo. Que ao menos nos queiramos bem. Peço que rezem por mim, pelo bispo e amigo que não cansa de pedir a Deus por vocês. Saibam dizer “sim” ao Evangelho.
De nada valerão estas palavras escritas, se vocês não fizerem uma opção pessoal por Jesus Cristo. Abram as portas de seus corações e deixem a mensagem do Evangelho tomar conta de suas vidas. Obrigado pela atenção, pelo carinho e amor à Igreja. Nunca se esqueçam da juventude da qual vocês fazem parte. Que Deus os abençoe. Um grande abraço e até breve. Espero a resposta de vocês!

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá



Carta de Dom Anuar Battisti aos Jovens - Parte 4

4 - AFETIVIDADE: SEXUALIDADE, COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO

Ninguém vive sem afetos. A afetividade é a base para se construir a nossa existência. O nosso ser é todo sexuado, comunicativo e de relacionamentos.
Precisamos entender melhor como cultivar a afetividade em nossa vida. A afetividade é a força que mora dentro de nós e que nos leva a transmitir a nossa sexualidade, o desejo de nos comunicarmos com o outro e criarmos relacionamentos de amizade verdadeira. Envolto em tudo isso está o amor, que dá o sentido do prazer e do reconhecimento do outro. Tudo isso é maravilhoso, pois lida com a sensibilidade humana, com os sentimentos mais profundos da pessoa, com o amar e o ser amado.
A afetividade não é abstração; é algo concreto. Ninguém tem afeto por uma idéia, uma filosofia, uma teoria. A afetividade supõe um grau de interação entre pessoas concretas. Por isso, há algumas situações de vivência da afetividade:
1º - A afetividade é sexualidade: o exercício da sexualidade enriquece a pessoa. O sexo deve ser vivenciado numa relação de liberdade e responsabilidade.
Quando não há estes dois fatores torna-se sentimento egocêntrico, próprio de pessoas imaturas e irresponsáveis com o outro. A igreja não é contra o sexo. Negar a sexualidade é negar a própria condição humana. Não existe pessoa assexuada. Ao contrário, a Igreja vê no sexo a transmissão sagrada da vida, o encontro transcendente entre duas pessoas que se amam.
Com o que não dá para concordar, porém, é com a banalização da sexualidade, com o prazer genital apenas, como se fosse uma mercadoria à venda. Sexo é coisa sagrada. Tão sagrada que Deus o colocou dentro do casamento.
2º - A afetividade é comunicação: todo o nosso corpo comunica o que somos. A comunicação está presente em todas as pessoas; e para comunicar os nossos sentimentos, idéias e opiniões, usamos nossa afetividade. É assim que acontece quando cantamos, dançamos, rezamos, fazemos teatro, escrevemos, conversamos... tudo isso comunica o que somos – afetos. Ninguém morre por falta de sexo, mas por falta de afetos.
Por isso, precisamos cultivar uma intensa afetividade em nós, cuidar de nossa auto-estima, exercitar os bons relacionamentos, o respeito pelo outro, a liberdade consigo mesmo.
3º - A afetividade é relacionamento: ninguém vive sozinho. Somos seres em relação, construímos nossa afetividade nos relacionamentos sólidos e verdadeiros. Quem vive de falsidades e aparências está construindo relacionamentos provisórios e decadentes. Quando cai a máscara da falsidade, as pessoas se afastam porque não encontraram autenticidade. Muitas vezes se esquece que os verdadeiros relacionamentos são constituídos de amor, confiança, liberdade, e estes duram para sempre.
Quantos jovens estão feridos na sua afetividade, na sua sexualidade, nos seus relacionamentos, porque faltou harmonia entre a razão e o coração. Com certeza o “coração tem razões que a própria razão desconhece”, porém nada se consegue se não existir disciplina, auto-controle, renúncia. Atletas jovens com ideais desafiadores “chegam lá” lutando incansavelmente, fazendo sacrifícios até da solidão e do isolamento.
Quanto suor e esforço para ter a satisfação de um prêmio, somente para este mundo. O que não deveríamos fazer para receber não um prêmio e sim uma herança, a herança eterna?
Nosso querido Dom Helder Câmara dizia:
“O único evangelho que muitas pessoas vão ler é o nosso exemplo de vida”. Este evangelho você já começou a escrever? Você não é mais criança. O que você está escrevendo só quem convive com você sabe ler, e só saberá escrever aquele que vive integrado com os outros. Na medida em que você se isola, perde a dimensão da união, de relacionamentos verdadeiros, de confronto com o diferente. O sentido da vida está na permanente busca de relações com os outros e com o totalmente Outro, deixando de lado qualquer vantagem pessoal.
Não pare, não desista. Busque, saia de si, vá ao encontro do outro, faça amizade, fale das coisas do coração, deixe de lado a vergonha de ser jovem cristão. Ame a você mesmo, acredite nas suas capacidades. Não importa onde você se encontra: venha somar com os outros jovens na comunidade cristã, que canta, reza e dá testemunho. Integre e entregue a sua vida, a sua afetividade, a sua sexualidade, convivendo e comunicando através de amizades verdadeiras.
Você vai ganhar tudo, porque é transparente. Não precisa esconder nada, porque ao seu lado alguém vai estar sempre, o jovem Jesus de Nazaré. Ele estará sempre com você, Ele o ama e preenche todo o vazio de sua vida. Assim o Evangelho mais lido na comunidade será o exemplo de sua vida. Viva a vida comunicando e comunique-a vivendo.


Carta de Dom Anuar Battisti aos Jovens - Parte 3

3 - AS DIMENSÕES DA PESSOA HUMANA


O ser humano é uma totalidade constituída de corpo, alma e espírito (cf. 1Ts 5,23). O corpo é a nossa dimensão biológica, material, física. A alma são nossos afetos e razão, potência de amar e discernir o que é bom ou mau. Enquanto o nosso espírito é a capacidade que temos de transcender, de encontrar Deus. Todo ser humano possui estas três dimensões; se faltar uma delas deixa de ser uma pessoa madura e dona de si.
Está muito em voga concentrar a vida em apenas uma dimensão em detrimento das outras. Fala-se muito do aspecto material da pessoa, reforçando apenas a dimensão corporal. Valorizar o corpo é algo bom e necessário quando se refere a praticar esportes, cuidar da saúde física, ter boa alimentação etc. O que não pode acontecer é considerar o ser humano apenas como corpo. A consequência é inevitavelmente viver a vida no materialismo, ressaltando apenas as necessidades biológicas, materiais e físicas. Outro risco é desconsiderar o corpo e pensar que somos apenas espírito, relação de transcendentalidade, de mística. O perigo de se centrar somente nesta dimensão é esquecer a vida concreta, histórica, cotidiana, como se ela não existisse. Por fim, cair no racionalismo nos remeteria a uma vida meramente intelectualista, sem transcendência nem contato com o mundo histórico.
O que seria ideal? Viver o equilíbrio destas três dimensões humanas. Por isso, querido jovem, proponho três metas para alcançar o equilíbrio e a integração destas dimensões:
1. Disponibilizar tempo para cuidar do material, do corpo humano e do corpo social, constituído de pessoas concretas e históricas. Nesta dimensão entra o compromisso com o bem do outro e da sociedade para que ela seja justa e igualitária.
2. Disponibilizar tempo para cuidar da dimensão afetivo-racional. Saber lidar com os afetos, emoções, autoconhecimento da condição humana, da personalidade, dos limites e fragilidades afetivas. Também a razão foi dada para continuar a obra da criação. Dedicar tempo ao estudo, à compreensão da dinâmica da sociedade, saber fazer uma crítica social e política sem desrespeitar a dignidade das pessoas. Entender o mundo nas suas construções históricas e contradições.
3. Disponibilizar tempo para cuidar da dimensão espiritual. Intensificar a amizade com Deus através da oração, do amor à Eucaristia, participando do grupo de jovens, amando a Deus e ao próximo. Uma espiritualidade que brota do Evangelho vivido.
Rezar é integrar a vida em Deus. Você, jovem, precisa buscar uma integração pessoal cada vez maior. Há momentos na vida que exigirão verdadeiro malabarismo para não cair na onda do mais fácil, do mais prazeroso. Vão exigir escolhas dolorosas, custarão sacrifícios, cujos frutos serão a paz interior e a tranquilidade de consciência. Por isso, vão exigir de você uma verdadeira disciplina, organização do seu tempo e atenção. Você tem uma grande capacidade de planejar, de criar, de inventar. Use isso para fazer da sua vida e da vida dos outros o melhor e o mais perfeito.


Carta de Dom Anuar Battisti aos Jovens - Parte 2

2 - O SENTIDO DA VIDA

O sentido da vida está em amar. Eis a chave para a felicidade. Amar e ser amado é o caminho de uma vida que vale o esforço de ser vivida. O amor supõe sempre outra pessoa.
Ninguém ama por si mesmo nem para si mesmo: não seria amor, mas puro egoísmo. O amor é encontro com o outro e, no outro, encontro das razões para viver, o complemento daquilo que não se possui. É a convivência fraterna, a diferença de pessoas que desperta em cada um o sentido da vida. Ninguém vai encontrar o sentido da vida sozinho, como se fosse uma ilha. Somos seres em relação, em comunhão com o outro e com Deus. Nosso mundo hoje incentiva muito o egoísmo e o isolamento. Isso gera pessoas vazias, sem sentido, sem projeto de vida, egocêntricas, como se fossem o centro do mundo, pessoas que se esquecem de Deus, da família, dos amigos. Estas pessoas crescem frágeis, melindrosas e inseguras na convivência humana. Faltou-lhes a experiência do outro, do encontro fraterno com o irmão e com Deus.
Jesus deixou um mandamento novo: “Amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês. Não existe maior amor do que dar a vida pelos amigos” (Jo 15,12-13). Deus nos amou por primeiro: é isto que preenche de sentido a nossa vida. Como posso amar o próximo e a mim mesmo se primeiro não reconheço o amor de Deus em mim? Só conseguiremos amar o irmão se primeiro experimentarmos que Deus nos ama. Se eu não reconhecer o amor de Deus em mim, dificilmente conseguirei amar as outras pessoas de forma madura e sadia. O amor de Deus é doação, gratuidade, relação com o outro. Aquilo que dou aos outros é o que antes já recebi de Deus. Ninguém dá o que não tem, inclusive o amor. Por isso, querido jovem, reconhecer o amor de Deus em nós é condição para amar a si mesmo e ao outro.

O amor não é sentimentalismo barato.
Muitos jovens vivem hoje um vazio existencial porque não fizeram a experiência do amor verdadeiro. Caem na superficialidade, nas coisas passageiras e por isso vivem a vida simplesmente pelo prazer. O prazer é bom, mas deve ser vivido com responsabilidade. O problema existe quando o prazer se torna fuga da sua própria vida. Torna-se um ciclo vicioso – quanto mais prazer busco, de mais prazer eu preciso. Transforma-se numa sede insaciável, que nunca tem fim. O papa Bento XVI nos dá um grande ensinamento: “O meu apelo hoje para vós, jovens, é que não desperdiceis a vossa juventude. Não tenteis fugir dela. Consagrai-a aos elevados ideais da fé e da solidariedade. Vós não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário, sois o presente jovem da Igreja e da humanidade. A Igreja precisa de vós, como jovens, para manifestar ao mundo o rosto de Jesus Cristo... Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada” (Jornada Mundial da Juventude, 2008).



Carta de Dom Anuar Battisti aos Jovens - Parte 1

O meu desejo, querido jovem, é encontrá-lo na paz. Tenho muitas coisas para partilhar com você. Gostaria de receber um minuto de sua atenção, de abrir o meu coração de pastor e bispo, e dizer aquilo que penso da juventude.

Antes de tudo, acredito em você e reconheço a dificuldade da Igreja para entendê-lo na sua natureza mais profunda. Quero com esta carta dialogar e propor um caminho de santidade, sem renunciar ao seu direito de ser jovem. Tenho dentro de mim muitas coisas para lhe falar, e sei que você tem também muitas outras a me falar. Quero estabelecer entre nós uma relação de afeto e amizade, como dois amigos que se amam e, sem motivo especial, simplesmente se encontram para falar de si mesmos. Meu desejo mais sincero é estar ao seu lado e partilhar um pouco de minha experiência de fé e humanidade.
Não se incomode por eu ser o bispo. Ao ler esta carta, imagine-me um amigo que já caminhou um pouco mais e quer apenas indicar um caminho seguro.

1 - CHAMADO À VIDA

Você, querido jovem, tem nas mãos o maior presente de Deus, que é a vida, para poder viver e fazer dela a sua felicidade. A vida é dom de Deus. Isto significa que cada um de nós tem uma missão divina neste mundo. Ninguém nasceu ao acaso nem como fruto da distração de Deus. Se estamos aqui é porque Ele tem para nós um plano de amor, porque “Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus” (1Jo 4,8). A felicidade se constrói com dons divinos – amor, esperança, fé, sinceridade, vocação, compromisso com o outro etc. Não dá para ser feliz ignorando a vida como dom de
Deus. Em nosso tempo dilacerado por maldades e egoísmos, muito se propõe a felicidade, mas não a verdadeira felicidade. Não posso deixar você à mercê das coisas do mundo, da violência, da morte, das drogas, dos vícios...
Estas coisas não geram vida, apenas morte e, por consequência, infelicidade. Como não me preocupar com você quando ouço dizer que nos próximos dez anos, trinta e cinco mil jovens morrerão vítimas das drogas? Que bonito ver jovens, como você, apaixonados pelo bem, querendo mais, descobrindo os seus dons, buscando a felicidade em Deus, construindo com suas capacidades um mundo melhor, criando relacionamentos verdadeiros sem querer nada para si mesmos, mas sendo felizes fazendo felizes os outros. Você, jovem, é a maior riqueza da comunidade.
Quero com você ser uma comunidade jovem, alegre, participativa. Esta carta escrevo pensando em você; quero contar com você sempre. Você tem um valor infinito, custou a vida de um Deus, que por mim e por você morreu na cruz. Você pode ser a alegria de Deus. Por isso, descubra em sua própria vida o dom que Ele colocou em você.


sábado, 24 de outubro de 2009

Salvemo-nos com o Planeta!



Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, MT, apresenta a Agenda Latino-Americana Mundial 2010.


Vinte anos atrás tratavam de ecologia umas poucas pessoas, tachadas inclusive de bucólicas ou de derrotistas. Não era um tema sério nem para a política nem para a educação nem para a religião. Podia-se venerar a Francisco de Assis como santo das flores e dos pássaros, mas sem maior compromisso. Agora, e quem sabe se tarde demais, o mundo inteiro está-se sensibilizando, atordoado pelas notícias e pelas imagens de cataclismos atuais e de previsões pessimistas que enchem os nossos telejornais. E já são muitos os congressos e os programas que ventilam como um tema vital a ecologia, desnudando as causas e urgindo propostas concretas acerca do meio ambiente. Até as crianças sabem agora de ecologia.
O tema é novo, então, e desesperadamente urgente. Acabamos por descobrir a Terra, nosso Planeta, como a casa comum, a única que temos, e estamos descobrindo que somos uma unidade indissolúvel de relações e de futuro.
Frente aos gastos astronômicos nos espaços siderais, frente ao assassino negócio do armamentismo, frente ao consumismo e luxo de uma privilegiada parcela da Humanidade, agora vamos sabendo que o desafio é cuidar deste Planeta. A última grande crise, filha do capitalismo neoliberal, embrutecido na usura e o esbanjamento, que vem ignorando cinicamente tanto o sofrimento dos pobres como as limitações reais da Terra, está-nos ajudando a abrir os olhos e esperamos que também o coração. Leonardo Boff define o grito da Terra como o grito dos pobres e James Lovelock nos avisa acerca da “vingança da Terra” - a teoria de Gaia e o futuro da Humanidade -. "Durante milhares de anos, diz Lovelock, a Humanidade vem abusando da Terra sem ter em conta as consequências. Agora, que o aquecimento global e o cambio climático são evidentes para qualquer observador imparcial, a Terra começa a se vingar". Estamos tratando a Terra como um assunto apenas econômico e exigimos da Terra muitos deveres, mas ignoramos os direitos da Terra.
Certos especialistas e certas instituições internacionais nos vêm mentindo. A mão invisível do Mercado não resolvia o desastre mundial. Quanto mais livre era o comercio mais real era a fome. Segundo a FAO, em 2007 havia 860 milhões de famintos; em Janeiro de 2009 109 milhões mais. A metade da população africana subsaariana, por citar um exemplo dessa África crucificada, mal vive na extrema pobreza. A ladainha de violência e desgraças provocadas é interminável. No Congo há 30.000 meninos soldados dispostos a matar e a morrer a troco de comida; 17% da floresta amazônica foram destruídos em cinco anos, entre 2000 e 2005; o gasto da América Latina e do Caribe em defesa cresceu um 91%, entre 2003 e 2008; uma dezena de empresas multinacionais controla o mercado de sementes em todo o mundo. Os Objetivos do Milênio se evaporaram na retórica e em suas reuniões elitistas os países mais ricos dizem covardemente que não podem fazer mais para reverter o quadro.
É tradição de a nossa Agenda Latino-americana Mundial enfrentar a cada ano um tema maior, de atualidade quente. Não podíamos, logicamente, deixar de lado este tema vulcânico. O tema é amplo e complexo. Somos nós ou é o Planeta quem está em crise mortal? Baralhamos três títulos para a Agenda Latino-americana Mundial de 2010 que apontam para possíveis focos: "Salvar o Planeta", "Salvaremos o Planeta?", "Salvemo-nos com o Planeta". Optamos pelo último título, porque técnicos e profetas nos vêm recordando que nós somos o Planeta também; somos Gaia, estamos despertando para uma visão mais holística, mais integral; estamos descobrindo, finalmente, que o Planeta Terra é também o Planeta Água. Um recente livro infantil intitula-se precisamente “Ajudo ao meu Planeta”. A salvação do Planeta é a nossa salvação, e não faltam especialistas que afirmem que o Planeta vai se salvar seguindo o curso do Universo e, entretanto, a vida humana e todas as vidas do Planeta serão um sombrio passado.
A Agenda Latino-americana Mundial de 2010 não quer ser pessimista, não pode sê-lo. Quer ser realista, se comprometer com a realidade e abraçar vitalmente as causas que promovem uma ecologia esperançada e esperançadora. Essa ecologia profunda, integral, deve incluir todos os aspetos da nossa vida pessoal, familiar, social, política, cultural, religiosa... E todas as instituições políticas e sociais, em nível local, nacional e internacional, têm de fazer programa seu fundamental "a salvação do Planeta".
É imprescindível uma globalização de signo positivo, trabalhando pela mundialização da ecologia. Rechaçando e superando a atual democracia de baixa intensidade urge implantar uma democracia de intensidade máxima e, mais explicitamente, uma "biocracia cósmica". Urge criar, estimular, potenciar, em todas as religiões e em todos os humanismos uma espiritualidade "profunda e total" de signo positivo, de atitude profética na libertação de todo tipo de escravidão; vivendo e militando por uma nova valoração de toda vida, da matéria, do corpo, do eros. O ecofeminismo sai ao encontro de um desafio fundamental, Gaia é feminina. Impõe-se uma nova relação com a natureza, naturalizando-nos como natureza que somos e humanizando a natureza na qual vivemos e da qual dependemos. Eu sou eu e a natureza que me circunda, diria o filósofo.
O melhor que tem a Terra é a Humanidade, apesar de todas as loucuras que temos cometido e seguimos cometendo, verdadeiros genocídios e verdadeiros suicídios coletivos. Propiciando essa mudança radical que se postula e proclamando que é possível outra ecologia em outra sociedade humana, fazemos nossos estes dois pontos do Manifesto da Ecologia Profunda: "A mudança ideológica consiste principalmente em valorizar a qualidade da vida - de viver em situações de valor intrínsecas - mais do que tratar incessantemente de conseguir um nível de vida mais elevado. Terá que se produzir uma tomada de consciência profunda da diferença que há entre crescimento material e o crescimento pessoal independente da acumulação de bens tangíveis". E acrescenta o Manifesto: "Quem subscreve os pontos que se enunciam no Manifesto tem a obrigação direta ou indireta de agir para que se produzam estas mudanças, necessárias para a sobrevivência de todas as espécies do Planeta", incluindo «a santa e pecadora» espécie humana.
Militantes e intelectuais comprometidos com as grandes causas estão preparando uma Declaração Universal do Bem Comum Planetário que se expressa através de quatro pactos: 1) o Pacto Ecológico Natural, responsável de proteger a Terra; 2) o Pacto Ecológico Social, responsável de unir todas as esperanças e vontades; 3) o Pacto Ecológico Cultural, que deve estar baseado na promoção do pluralismo, da tolerância e do encontro da Humanidade com os ecossistemas, os biomas, a vida do Planeta; e 4) o Pacto Ecológico Ético Espiritual, fundado na dimensão do cuidado, a compaixão, a corresponsabilidade de todos com tudo.
Devemos escutar o que nos dizem simultaneamente as novas ciências e as novas teologias. Queremos viver este kairos ecológico de militância e de mística com o Deus de todos os nomes e de todas as utopias. Com Jesus de Nazaré muitos libertários, profetas e mártires em Nossa América nos precedem e nos acompanham nesta marcha pelo deserto para "a Terra sem Males".
É uma utopia absurda? Só utopicamente nos salvaremos. A arrogância dos poderes, o lucro desenfreado, a prepotência, as claudicações, vêm a nos desanimar; mas nós nos negamos ao desânimo, à corrupção, à resignação. A Pachamama e Gaia estão vivas, são vivificadoras. Nenhuma estrutura de morte terá mais poder do que a Vida.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Nossa Senhora Aparecida



Celebramos hoje a Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Festa dos brasileiros para a Virgem que se manifesta negra, pobre aos pobres. A quem os pobres de todo o Brasil recorrem nas suas dores, sofrimentos, necessidades. Sabem que a mãe, mais do qualquer outra pessoa, se interessa pela vida de seus filhos. "Filho, eis tua mãe, mãe, eis o teu filho". Quem sabe o testemunho de amor da Mãe de Deus pelos seus filhos, inspire todos os que são responsáveis por dar a esse mesmo povo sofredor, condições de vida mais digna. Quem sabe um dia, os pobres de Deus não precisem mais recorrer à sua padroeira, quando a justiça e a paz fizerem parte da vida de todo cidadão brasileiro.
Santa Mãe de Deus, rogai por nós.

MST - Declaraçao



Acredito que é necessário ouvir sempre os dois lados de uma versão...




Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção nacional do MST vem a público se pronunciar.


1. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso país. O resultado do Censo de 2006, divulgado na semana passada, revelou que o Brasil é o país com a maior concentração da propriedade da terra do mundo. Menos de 15 mil latifundiários detêm fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras.
 2. Há uma lei de Reforma Agrária para corrigir essa distorção histórica. No entanto, as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a Constituição de 1988.
 A Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas.
 3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece, por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem  à União e estão indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para assentar trabalhadores rurais sem terras.
 4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.
 5. Somos contra a violência. Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores para manter seus privilégios. E, principalmente, temos o maior respeito às famílias dos trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos as ocupações. Os trabalhadores rurais são vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.
 6. As famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que umas das maiores empresas da agricultura - que controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime cometido pela Cutrale.
 7. Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da policia.
 8. Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado.
 9. Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário, serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem.
 Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da direita para  impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e "enquadrar" as candidaturas dentro dos seus interesses de classe.
 10. O MST luta há mais de 25 anos pela implantação de uma Reforma Agrária popular e verdadeira. Obtivemos muitas vitórias: mais de 500 mil famílias de trabalhadores pobres do campo foram assentados. Estamos acostumados a enfrentar as manipulações dos latifundiários e de seus representantes na imprensa.
 À sociedade, pedimos que não nos julgue pela versão apresentada pela mídia. No Brasil, há um histórico de ruptura com a verdade e com a ética pela grande mídia, para manipular os fatos, prejudicar os trabalhadores e suas lutas e defender os interesses dos poderosos.
 Apesar de todas as dificuldades, de nossos erros e acertos e, principalmente, das artimanhas da burguesia, a sociedade brasileira sabe que sem a Reforma Agrária será impossível corrigir as injustiças sociais e as desigualdades no campo. De nossa parte, temos o compromisso de seguir organizando os pobres do campo e fazendo mobilizações e lutas pela realização dos direitos do povo à terra, educação e dignidade.

São Paulo, 9 de outubro de 2009


Publicado no "MST Informa" n° 174.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dia do Nascituro



Encerramos hoje a Semana da Vida com o Dia do Nascituro ou o Dia daqueles que estão por nascer. Diante de tanta violência contra indefesos, a Igreja vem proclamar o valor da vida desde sua concepção até seu fim natural. Será difícil mudar as realidades de violência se não começamos a mudar a forma como tratamos a nós mesmos. Se um pai e/ou uma mãe são capazes de MATAR seus próprios filhos, o que não seríamos capazes de fazer a outros de nossa espécie? Até quando a humanidade continuará negando que a vida de um ser humano começa na concepção e nenhum dia depois? Se a partir da concepção ele ainda não é humano, então é o que? Se o desenvolvimento do embrião é levado adiante, ele poderia se transformar em outra coisa ou outro ser que não fosse humano?
Vamos defender a vida em todas as suas fases. Se somos capazes de nos organizar para defender a vida de seres muito inferiores a nós, por que não fazemos o mesmo com a vida de nossos semelhantes?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Semana nacional da Vida e Dia do Nascituro




Desde o ano 2005 a Igreja no Brasil comemora no dia 8 de outubro o Dia do Nascituro.
A data está inserida em um contexto significativo: no Brasil estamos no início da primavera, tempo em que a vida floresce; é o encerramento da Semana da Vida; aproxima-se a celebração do Dia da Criança.
Neste contexto de alegria e esperança a Igreja propõe uma semana de reflexões e orações pela vida nascente. Diante de tantos ataques que vêm sofrendo, a vida humana, dom de Deus, necessita ser amparada e tutelada desde a sua concepção até seu fim natural. A vida é o fundamento sobre o qual se apóiam todos os demais valores.
É interessante notar como a sociedade se comove diante de situações limites a que estão submetidos tantos irmãos e irmãs e que são constantemente motivo de longas reportagens ou programas de entretenimento que visam tão somente a atenção do público através do apelo emocional e nada profundo (novelas, filmes, programas dominicais...)
Esta mesma sociedade que se deixa emocionar por uma família que vê sua casa ser transformada em um lugar habitável em um programa de televisão, não é capaz de se comover pelos tantos abortos cometidos a cada ano; pelo uso indiscriminado de embriões – diga-se, seres humanos – para fins científicos, o que significa a morte deste embrião; pelas tantas crianças abandonadas em orfanatos porque concebidas em uma relação imatura e descompromissada, pela apoio à luta pelos direitos das mulheres e uma quase total omissão na luta pelos direitos da criança já desde a sua concepção.
“O Evangelho da vida está no centro da mensagem cristã (Evangelium Vitae, 10). Deus, que é o Senhor da Vida, confiou aos homens o nobre encargo de preservá-la (Gaudium ET Spes, 51). Por isso, a Igreja declara que o respeito incondicional do direito à vida de toda pessoa – desde a sua concepção até a morte natural – é um dos pilares sobre o qual assenta toda a sociedade e um estado verdadeiramente humano. Defender este direito primário e fundamental à vida humana é um dever do Estado.
Atuar em favor da vida é contribuir para a renovação da sociedade através da edificação do bem comum. De fato, não é possível construir o bem comum sem reconhecer e tutelar o direito à vida, fundamento de todos os demais direitos inalienáveis do ser humano.
Não pode ter solidas bases uma sociedade que se contradiz radicalmente, por um lado afirmando valores básicos como a dignidade da pessoa, a justiça e a paz, mas por outro, aceitando ou tolerando as mais diversas formas de desprezo e violação da vida humana, sobretudo as mais frágeis e marginalizadas. Só o respeito à vida pode fundar e garantir bens tão preciosos e necessários à sociedade como a democracia e a paz (cf Evangelium vitae, 101)” ( Secren).
Em nossa Arquidiocese, convidamos todas as comunidades a celebrarem com criatividade este dia. É preciso fazer ressoar ao mundo nossa voz em defesa da vida. Seja dada atenção especial ao encontro com as gestantes e seus esposos e também uma celebração no dia do Nascituro com a bênção das gestantes. É também um momento oportuno para tratar das questões ligadas à adoção de crianças.